Folga extra!!!

Um trabalho extra sempre é bom porque posso ganhar um dinheirinho a mais, mas não tem o que pague uma folga extra! Pelo contrário eu sempre gasto mais do que devia nesses dias!
E hoje não foi diferente.
Bom, você deve estar se perguntando do que eu to falando, afinal hoje é segunda-feira e não é minha folga. Mas a Claudia combinou de viajar com uma amiga dela daqui que tem uma menininha da idade do Leo – e os dois se adoram – e vão passar a noite fora, então estou de folga!

Acordei com o Leo em torno das 8:30h. Ele ainda estava molinho, ficou enrolando na cama e eu também. Depois de um tempo ele e a Ruby vieram pra minha cama. Às 9h o despertador da Claudia tocou e quando eu ouvi que ela estava de pé, chamei ela pra ver a cena. Estávamos os três completamente tortos na minha cama, mas não estava desconfortável, até que estava gostoso. Depois disso levantamos.
Me arrumei, arrumei o Leo, tomamos café da manhã e eu perguntei pra Claudia se eu podia sair um pouco antes dela, ela falou que tudo bem, eu contei meus planos, ela ficou feliz e assim fizemos. Sai de casa às 10h da manhã.

Peguei um taxi direto pra Retreat. E lá começou minha aventura: eu tinha me programado para andar no Red Bus – aquele ônibus turístico que passa na cidade inteira e vai parando em vários pontos – na realidade eu queria ir a alguns pontos específicos e esse ônibus passa em todos!

Voltando a Retreat: comprei a passagem do trem e fui pra plataforma 3 porque já havia um trem parado lá, não é o usual, mas às vezes os trens saem da plataforma 3. Entrei no trem e fiquei esperando a partida.

Em alguns minutos saímos e eu notei que o trem não estava fazendo o caminho que ele sempre faz, passando pelas estações que eu conheço até chegar em Claremont. No começo achei que era coisa da minha cabeça, mas não era! Eram estações diferentes, lugares que eu nunca tinha passado antes e eu comecei a ficar com medo e pensar que talvez aquele trem não estivesse indo pra Cape Town.
Mas eu não tinha pra quem perguntar. Em cada estação que ele parava eu via funcionários nas plataformas, mas achei melhor não colocar a cabeça pra fora pra perguntar e também achei mais seguro não descer do trem. Na pior das hipóteses eu desceria do trem na última estação e estava rezando para que essa estação fosse Cape Town.

Em um determinado ponto entrou uma funcionária do trem, de uniforme e tudo, então eu chamei ela e perguntei se eu estava perdida, disse que queria ir pra Cape Town e ela me falou que eu estava no caminho certo, foi quando respirei aliviada. Mesmo assim continuei não conhecendo nada. Algumas estações até me soavam com nome de lugares que eu ouvi falar, mas que não tinha idéia de onde eram! Sinceramente eu acho que passei por Cape Flats – a área colored de Cape Town, mas só vou saber quando eu perguntar pra Caroline, na quinta.

Depois de mais de 1 hora no trem, o percurso que eu conheço demora uns 40 minutos no máximo, chegamos em Cape Town e eu fiquei realmente aliviada. Sei que desembarquei na plataforma 15 e os trens que vem aqui para casa saem e chegam nas plataformas 1, 2, 3, 4 e 5. Fui até o Castle of Good Hope – um dos pontos do Red Bus – e primeiro entrei no Castelo, esse era um dos pontos turísticos que eu queria conhecer. Paguei a entrada e comecei a andar lá dentro, meio perdida.

Na portaria, a menina me disse que teria um guia ao meio dia, mas ainda faltavam 20 minutos. Fui seguindo a multidão e encontrei alguns lugares. Um deles é uma exposição onde eu encontrei um casal de brasileiros super simpáticos: o Francisco e a Silvia. Ficamos conversando um tempão dentro dessa exposição e andando. Adorei eles! Mas depois que saímos da exposição, eles já tinham visitado o castelo todo, foram embora e eu me juntei ao pessoal com o guia.
O guia nos levou aos 5 pontos do castelo – ele é construído em formato de uma estrela de 5 pontas – nos mostrou onde eram os depósitos de armas, a sala de tortura, uma piscina maravilhosa, uns lugares bem bonitos no castelo.

No final do passeio, como eu já tinha visto as exposições, estava indo embora e o guia veio atrás de mim, me paquerando e tentando puxar assunto. Perguntou se eu não ia ver as exposições, eu disse que já tinha visto porque tinha chegado um pouco antes do passeio com ele começar e que agora estava indo embora. E realmente fui embora.

Fui para o ponto do Red Bus e havia acabado de passar um, tive que esperar 15 minutos até vir o próximo. Peguei, paguei a entrada e subi, é um ônibus de dois andares, com a parte de cima aberta, é bem legal! Pena que o tempo hoje não ajudou! Logo que eu peguei o ônibus começou a chover... O bom é que em cima tem uma parte coberta, eu fiquei por lá. Passamos em vários lugares, como a Casa do Parlamento:

Fomos até o ponto baixo do cablecar da Table Mountain, mas estava fechado devido ao mau tempo, passamos por Cape Point e andamos pela estrada que rodeia o litoral até chegar a Waterfront .

O Walterfront é o ponto inicial e final do Red Bus, mas como eu peguei ele quase no ponto final fiquei dentro e continuei o passeio, o legal desse passeio é que você ganha uns fones de ouvido pra ligar em uma caixinha no busão, dá pra escolher o idioma e tem até português, mas a narração em português é feita por duas pessoas: um homem com sotaque português muito forte e uma mulher com sotaque brasileiro. Quando você se acostuma com um falando, eles trocam e o outro começa a falar... Eu perdi bastante coisa que o homem falou...

Mas hoje meu foco no passeio era o Distric 6 Museum, um bairro de Cape Town onde os moradores foram obrigados a sair das suas casas, na década de 60, porque o governo decretou que a partir de então aquela região seria uma região só para pessoas brancas. O bairro contava com uma população de 60 mil pessoas e a história é bem triste: até hoje 85% do bairro não é habitado porque quando tudo aconteceu causou uma comoção muito grande na população, eles lutaram pelo direito de ficar nas suas casas, muita gente morreu e mesmo assim o governo derrubou todas as casas. O governo só não derrubou igrejas e mesquitas e o pouco que foi reconstruído, foi feito pelo governo, mas sem muito “sucesso”, pois as pessoas não queriam morar naquela região que havia sido motivo de tanta revolta e tantas mortes.
Há algum tempo atrás – depois do final do Apartheid – o governo sul africano prometeu às famílias que foram removidas de lá que eles poderiam voltar, ele está fazendo algumas ações para as pessoas retornarem ao seu bairro de origem, mas as pessoas vão ter que pagar pelo terreno.

Enfim, cheguei ao museu que eu tanto queria ver! Tava a maior chuva! Desci do ônibus super empolgada e quando cheguei ao museu ele estava fechado. Era 15:30h da tarde e o museu fecha as 14h às segundas-feiras! Fiquei super triste e decepcionada! Eu não iria ter outra chance de voltar lá... Então voltei pro ponto do Red Bus e fiquei esperando... Mas não me conformei e fui de novo pra frente do museu pra ver se eu tinha lido direito e foi ai que vi uma família entrando no museu. Não tive dúvidas: fui atrás deles! Havia um senhor super bonzinho dizendo que o museu fecha às 14h às segundas, mas que a gente podia entrar por uns minutos pra dar uma olhada. Eu fiquei super feliz!

Fiquei no museu por mais de uma hora, esse senhor era morador do Distric 6 quando tudo aconteceu e eu conversei bastante com ele. Ele me falou que na classificação do governo ele seria colored e como colored sua família teve que se mudar pra Cape Flats – 2 horas e meia longe de Distric 6 – mas que tinha sido pior ainda para as pessoas classificadas como negras, foram enviadas pra lugares muito mais longe de acordo com a sua origem, algumas foram enviadas para a região de Johanesburg. Ele contou algumas histórias que a Caroline já me contou como, por exemplo, se ele olhasse para uma pessoa branca ele poderia ser preso. Ele também me contou que todas as universidades do país eram exclusivas para pessoas brancas e que se um negro, ou colored ou asiático ou qualquer outra classificação que o governo tenha inventado na época que não fosse “branco” quisesse frequentar a universidade era preciso sair do país, ir para a Europa ou para os Estados Unidos, mas, claro, que a maioria deles não tinha condição para fazer isso. Só que curiosamente ele tem um amigo que ganhou uma bolsa pra fazer faculdade na Inglaterra e lá esse homem conheceu uma mulher branca. Eles se casaram na Europa e quando vieram para Cape Town, para visitar a família dele, o governo falou que eles não poderiam ficar juntos ou dormir juntos como um casal – pois era proibido o casamento interracial aqui – então ele teve que ir para Cape Flats e ela foi para uma área de “brancos”. No museu há algumas placas identificando coisas que são só para brancos, como um banco e ele falou que se ele sentasse naquele banco no período do Apartheid ele iria preso.

Depois ele me mostrou um livro que ele escreveu e eu comprei um exemplar. É sobre a vida dele no Distric 6,a desocupação, a demolição da casa dele e todas as mudanças que ele passou por causa do Apartheid.
O legal do livro é que tem fotos de como as coisas eram e é a história da vida dele. Eu adoro livros assim! Depois que sai do museu, voltei ao ponto do Red Bus e peguei o próximo. Agora eu estava realmente feliz!

Andei mais um ponto até o Castelo e voltei para a estação de trem. Eu estava molhada, com frio, com os pés doendo, sem almoço, cansada, mas estava feliz! Peguei o trem, dessa vez voltamos pelo caminho que eu conheço, desci em Retreat e fui direto pro Blue Route.

Comprei uma pizza, em uma das pizzarias que eu mais gosto aqui, comi. Passei no Wolworths e comprei chocolate, afinal ninguém é de ferro e vim pra casa. Cheguei em casa 18:30h, tomei um banho e vim pra internet... Atualizei algumas coisas e daqui a pouco vou tentar dormir.

A Claudia e o Leo voltam amanhã a tarde e eu preciso estar com as baterias carregadas...

#VaiCarol

Comentários

  1. Quanto mais posts voce coloca sobre o Apartheid, contado "por cima" baseada nas suas visitas a museus, fotos, livros e relatos de pessoas que viveram nessa época, mais eu tenho a certeza de que esse regime foi pior - sim, PIOR - que o anti-semitismo nazista...

    Por que? Oras, porque os nazistas segregaram mas logo depois iniciaram o extermínio sistemático dos judeus. E o nazismo não durou mais que 20 anos.

    Já o Apartheid pode não ter sido tão mortífero quanto o nazismo, porém durou muito mais e causou mais sofrimento, físico e principalmente psicológico, e que ainda vai demorar muuuuito pra secar a ferida em quem foi atingido por essa verdadeira barbárie...

    Os "pais" do Apartheid, se ainda vivos, deviam responder por crime contra a humanidade... Mas como são "amiguinhos" dos ocidentais, duvido e muito que algo desse tipo aconteça... Uma pena...

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