Passeios
Antes de ir viajar, a Claudia me falou que uma moça lá do consulado, a Julia, iria me ligar pra combinarmos de sairmos a noite na sexta. Eu já conhecia a Julia daquela festa aqui em casa e de outra que eu fui no consulado. Na quinta, depois que a Claudia saiu, a Julia mandou um SMS falando a respeito da saída na sexta e falou que ligaria na sexta para combinarmos.
Na quinta à noite a Claudia me ligou falando que eles tinham chegado bem em Johanesburg, mas que o Leo chorou no aeroporto falando que estava com saudades de mim... Isso cortou meu coração! Eu já aprendi a amar esse pequenininho. Então falei com ele um pouco no telefone e falei pra ele ficar bem, ficar feliz porque logo ele estaria de volta, pra ficar comigo.
Na sexta à tarde a Julia ligou falando que não daria pra gente sair, mas que ela tinha uma festa de uns amigos para ir no sábado a tarde e se eu queria ir com ela. Nem pensei, topei na hora! Então ela ficou de me ligar no sábado de manhã para combinarmos tudo certinho. Só que eu tinha combinado com uns meninos da minha escola de ir pra praia no sábado. Pensei um pouco e achei que dava tempo de fazer tudo.
Então hoje acordei 8 e pouco, me arrumei e antes de sair liguei pra Beth – uma das pessoas que disse pra Claudia me deixar o telefone dela – e expliquei para ela, em inglês, que eu estava indo pra praia com um menino da minha escola, o outro furou, mas que estava um pouco insegura por não conhecer nada e estar sozinha, se caso alguma coisa me acontecesse ninguém sentiria minha falta. Ela agradeceu por eu ter ligado e eu fui pra praia. Outra coisa que estava me deixando muito insegura é que essa praia que nós fomos, Muizenberg, fica numa região de negros ou colored – não sei bem. Bom, cheguei na estação do trem onde a gente deveria se encontrar super atrasada (combinamos às 10:30h e eu cheguei 11:30h) porque tem poucos trens rodando aos sábados, mas tudo bem eu avisei que estava atrasada.
E a praia: praia é praia, né? E essa praia é maravilhosa, com a temperatura da água igual à do Brasil. Eu me arrependi mortalmente de não ter levado toalha – até fui de biquíni, mas não levei toalha achando que não ia querer entrar na água – e como estava sem toalha, não entrei na água. Mas foi melhor assim, porque senão eu acho que não ia querer voltar pra casa pra esperar a Julia me buscar pro aniversário do amigo dela.
Ficamos na praia em torno de 1 hora e voltamos pra estação de trem. Peguei o trem à 1hora da tarde – porque a Julia falou que me buscaria as 2:30h – cheguei em casa em torno da 1:30h, tomei um banho, almocei, me arrumei e fiquei esperando ela. Ela chegou em torno das 3h, mas ela teve um contratempo e teve que voltar pra cidade pra buscar o filho de 17 anos que estava num jogo de Ruby na escola e deu mal jeito na coluna e não ia conseguir voltar pra casa sozinho. Chegamos à festa em torno das 5h, mas fomos as primeiras a chegar.
Então no caminho conversamos bastante. Falamos sobre o Apartheid, como era a vida durante o regime do Apartheid, sobre como eram as escolas naquela época e como são hoje. Eu “descobri” que aqui todas as escolas são pagas. Algumas são mais caras, outras mais baratas, mas TODOS tem que pagar pela escola do filho. No caminho a Julia me mostrou o lugar onde ela cresceu, a escola onde ela estudou e me apresentou toda uma parte colored da cidade que eu nunca teria ido sem estar acompanhada por ela ou por alguém daqui. Ela também me contou que a escola que o filho dela frequenta hoje era uma escola só de brancos quando ela era criança e que ela faz questão de colocá-lo lá, mesmo sendo mais cara, porque o ensino ainda é melhor do que o ensino da escola que ela frequentou. Aliás, isso é história pra outro post, quando eu vou falar da Bantu Education e de tudo o que eu li em Miriam’s Song – sim eu li um livro em inglês de 315 páginas em uma semana!
Falamos sobre saúde pública, sobre carga tributária, sobre ser mãe solteira – ela é mãe solteira de 2 filhos, esse de 17 e uma menininha adorável de 8 anos, a Casey. E fizemos alguns paralelos entre o Brasil e a África do Sul.
Quando chegamos na festa, eu descobri que o aniversariante, Mark, também trabalha no consulado – mas eu não o conhecia – e ele e a esposa são pessoas adoráveis e me deixaram super a vontade.
Agora um parênteses: a Julia é colored, então os amigos dela também são. Mas a esposa do Mark, Claudia, aos meus olhos era tão branca quanto eu, até mesmo o Mark seria considerado branco no Brasil. Então quando saímos da festa eu perguntei à Julia se todos que estavam lá eram colored e ela me confirmou. E eu perguntei pra ela: e eu, sou branca ou sou colored. Ela deu uma risada e falou: desculpa, mas você é branca. Sinceramente eu não sei qual a diferença entre eu e a Claudia, a esposa do Mark, mas a Julia falou que a diferença é bem grande. Acho que essa diferença só existe aos olhos de quem viveu sob o regime do Apartheid.
Mas voltando à festa! Foi muito legal!! O Mark estava fazendo churrasco – e quando eu falei pra Julia que eu era vegetariana ela me pediu milhões de desculpas, mas eu realmente não me importo. Ele estava fazendo frango, algum tipo de carne vermelha e linguiça, eu não fiquei com vontade de nada, nada mesmo. Aliás, nem o cheiro do churrasco parecia apetitoso pra mim. Mas pra minha sorte a Claudia fez uma salada linda e eu comi salada.
Depois que a gente chegou começou a chegar mais gente. Não tinha muita gente estávamos em umas 15 pessoas ao todo, mas o tempo todo eles me deixaram super a vontade e até me zoaram bastante. E eu aprendi muito, sobre a cultura deles, que é uma das coisas que eu mais queria saber. A comunidade colored tem suas “regras” e a Julia me explicou isso no caminho pra festa, todos os colored falam inglês e africânder, mas quando eles estão entre eles, eles falam os dois idiomas aos mesmo tempo. Sim, eles estão falando em inglês, de repente mudam e começam a falar em africânder e depois de curtas sentenças, voltam a falar em inglês. Foi o máximo! Não deu pra entender 100%, nem mesmo quando eles falavam em inglês porque alguns deles falavam muito rápido e usavam algumas palavras “soltas” em africânder no meio das frases, mas ver isso foi incrível e eu consegui entender boa parte do que eles estavam falando e até conversei bastante com eles.
Na festa eu percebi que a Julia chamava o Mark e a Claudia de tios e quando saímos da festa eu perguntei se eles eram parentes dela de verdade ou era só uma forma carinhosa de chamá-los. Ela me falou que é cultura também, que eles tem o hábito de chamar as pessoas que são, no mínimo, 5 anos mais velhas que eles de tio e tia. É uma forma de respeito com os mais velhos. Como exemplo ela citou ela mesma, ela me disse que tem duas irmãs que são em torno de 20 anos mais velhas que ela e que ela chama as irmãs de tias também. Ela falou que os filhos dela já não fazem mais isso e que essa cultura está se perdendo, mas eu achei bem legal e contei pra ela que a gente usava fazer isso no Brasil também. Também contei a respeito da “família do coração” que é quando a gente chama aquele amigo do pai ou da mãe de tio e considera mesmo um tio sem ser.
Bom, saímos da casa do Mark e da Claudia em torno das 10h da noite. E só saímos porque a Casey estava junto e estava bem cansada. E quando estávamos voltando pra casa que eu percebi onde estávamos: estávamos em Retreat!!! No bairro atrás da estação de trem! Eu não acreditei quanto notei aquilo! Eu nunca imaginei que estava tão perto de casa depois do tanto que a gente andou hoje...
Conversamos mais um pouco e a Julia me prometeu uma balada qualquer dia desses. Ela falou que tem um bar brasileiro aqui, mas eu falei pra ela que queria ir em algum lugar colored. Então ela me prometeu me apresentar alguns! Vamos ver, estou esperando ansiosamente!!!
#VaiCarol
Na quinta à noite a Claudia me ligou falando que eles tinham chegado bem em Johanesburg, mas que o Leo chorou no aeroporto falando que estava com saudades de mim... Isso cortou meu coração! Eu já aprendi a amar esse pequenininho. Então falei com ele um pouco no telefone e falei pra ele ficar bem, ficar feliz porque logo ele estaria de volta, pra ficar comigo.
Na sexta à tarde a Julia ligou falando que não daria pra gente sair, mas que ela tinha uma festa de uns amigos para ir no sábado a tarde e se eu queria ir com ela. Nem pensei, topei na hora! Então ela ficou de me ligar no sábado de manhã para combinarmos tudo certinho. Só que eu tinha combinado com uns meninos da minha escola de ir pra praia no sábado. Pensei um pouco e achei que dava tempo de fazer tudo.
Então hoje acordei 8 e pouco, me arrumei e antes de sair liguei pra Beth – uma das pessoas que disse pra Claudia me deixar o telefone dela – e expliquei para ela, em inglês, que eu estava indo pra praia com um menino da minha escola, o outro furou, mas que estava um pouco insegura por não conhecer nada e estar sozinha, se caso alguma coisa me acontecesse ninguém sentiria minha falta. Ela agradeceu por eu ter ligado e eu fui pra praia. Outra coisa que estava me deixando muito insegura é que essa praia que nós fomos, Muizenberg, fica numa região de negros ou colored – não sei bem. Bom, cheguei na estação do trem onde a gente deveria se encontrar super atrasada (combinamos às 10:30h e eu cheguei 11:30h) porque tem poucos trens rodando aos sábados, mas tudo bem eu avisei que estava atrasada.
E a praia: praia é praia, né? E essa praia é maravilhosa, com a temperatura da água igual à do Brasil. Eu me arrependi mortalmente de não ter levado toalha – até fui de biquíni, mas não levei toalha achando que não ia querer entrar na água – e como estava sem toalha, não entrei na água. Mas foi melhor assim, porque senão eu acho que não ia querer voltar pra casa pra esperar a Julia me buscar pro aniversário do amigo dela.
Ficamos na praia em torno de 1 hora e voltamos pra estação de trem. Peguei o trem à 1hora da tarde – porque a Julia falou que me buscaria as 2:30h – cheguei em casa em torno da 1:30h, tomei um banho, almocei, me arrumei e fiquei esperando ela. Ela chegou em torno das 3h, mas ela teve um contratempo e teve que voltar pra cidade pra buscar o filho de 17 anos que estava num jogo de Ruby na escola e deu mal jeito na coluna e não ia conseguir voltar pra casa sozinho. Chegamos à festa em torno das 5h, mas fomos as primeiras a chegar.
Então no caminho conversamos bastante. Falamos sobre o Apartheid, como era a vida durante o regime do Apartheid, sobre como eram as escolas naquela época e como são hoje. Eu “descobri” que aqui todas as escolas são pagas. Algumas são mais caras, outras mais baratas, mas TODOS tem que pagar pela escola do filho. No caminho a Julia me mostrou o lugar onde ela cresceu, a escola onde ela estudou e me apresentou toda uma parte colored da cidade que eu nunca teria ido sem estar acompanhada por ela ou por alguém daqui. Ela também me contou que a escola que o filho dela frequenta hoje era uma escola só de brancos quando ela era criança e que ela faz questão de colocá-lo lá, mesmo sendo mais cara, porque o ensino ainda é melhor do que o ensino da escola que ela frequentou. Aliás, isso é história pra outro post, quando eu vou falar da Bantu Education e de tudo o que eu li em Miriam’s Song – sim eu li um livro em inglês de 315 páginas em uma semana!
Falamos sobre saúde pública, sobre carga tributária, sobre ser mãe solteira – ela é mãe solteira de 2 filhos, esse de 17 e uma menininha adorável de 8 anos, a Casey. E fizemos alguns paralelos entre o Brasil e a África do Sul.
Quando chegamos na festa, eu descobri que o aniversariante, Mark, também trabalha no consulado – mas eu não o conhecia – e ele e a esposa são pessoas adoráveis e me deixaram super a vontade.
Agora um parênteses: a Julia é colored, então os amigos dela também são. Mas a esposa do Mark, Claudia, aos meus olhos era tão branca quanto eu, até mesmo o Mark seria considerado branco no Brasil. Então quando saímos da festa eu perguntei à Julia se todos que estavam lá eram colored e ela me confirmou. E eu perguntei pra ela: e eu, sou branca ou sou colored. Ela deu uma risada e falou: desculpa, mas você é branca. Sinceramente eu não sei qual a diferença entre eu e a Claudia, a esposa do Mark, mas a Julia falou que a diferença é bem grande. Acho que essa diferença só existe aos olhos de quem viveu sob o regime do Apartheid.
Mas voltando à festa! Foi muito legal!! O Mark estava fazendo churrasco – e quando eu falei pra Julia que eu era vegetariana ela me pediu milhões de desculpas, mas eu realmente não me importo. Ele estava fazendo frango, algum tipo de carne vermelha e linguiça, eu não fiquei com vontade de nada, nada mesmo. Aliás, nem o cheiro do churrasco parecia apetitoso pra mim. Mas pra minha sorte a Claudia fez uma salada linda e eu comi salada.
Depois que a gente chegou começou a chegar mais gente. Não tinha muita gente estávamos em umas 15 pessoas ao todo, mas o tempo todo eles me deixaram super a vontade e até me zoaram bastante. E eu aprendi muito, sobre a cultura deles, que é uma das coisas que eu mais queria saber. A comunidade colored tem suas “regras” e a Julia me explicou isso no caminho pra festa, todos os colored falam inglês e africânder, mas quando eles estão entre eles, eles falam os dois idiomas aos mesmo tempo. Sim, eles estão falando em inglês, de repente mudam e começam a falar em africânder e depois de curtas sentenças, voltam a falar em inglês. Foi o máximo! Não deu pra entender 100%, nem mesmo quando eles falavam em inglês porque alguns deles falavam muito rápido e usavam algumas palavras “soltas” em africânder no meio das frases, mas ver isso foi incrível e eu consegui entender boa parte do que eles estavam falando e até conversei bastante com eles.
Na festa eu percebi que a Julia chamava o Mark e a Claudia de tios e quando saímos da festa eu perguntei se eles eram parentes dela de verdade ou era só uma forma carinhosa de chamá-los. Ela me falou que é cultura também, que eles tem o hábito de chamar as pessoas que são, no mínimo, 5 anos mais velhas que eles de tio e tia. É uma forma de respeito com os mais velhos. Como exemplo ela citou ela mesma, ela me disse que tem duas irmãs que são em torno de 20 anos mais velhas que ela e que ela chama as irmãs de tias também. Ela falou que os filhos dela já não fazem mais isso e que essa cultura está se perdendo, mas eu achei bem legal e contei pra ela que a gente usava fazer isso no Brasil também. Também contei a respeito da “família do coração” que é quando a gente chama aquele amigo do pai ou da mãe de tio e considera mesmo um tio sem ser.
Bom, saímos da casa do Mark e da Claudia em torno das 10h da noite. E só saímos porque a Casey estava junto e estava bem cansada. E quando estávamos voltando pra casa que eu percebi onde estávamos: estávamos em Retreat!!! No bairro atrás da estação de trem! Eu não acreditei quanto notei aquilo! Eu nunca imaginei que estava tão perto de casa depois do tanto que a gente andou hoje...
Conversamos mais um pouco e a Julia me prometeu uma balada qualquer dia desses. Ela falou que tem um bar brasileiro aqui, mas eu falei pra ela que queria ir em algum lugar colored. Então ela me prometeu me apresentar alguns! Vamos ver, estou esperando ansiosamente!!!
#VaiCarol
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