Desventuras em South Africa
Agora eu me sinto mais segura por aqui: o idioma não me assusta mais, já conheço os caminhos que eu sempre faço, não me incomodo com as pessoas me olhando como se eu fosse um ET no taxi e até me adaptei à mão de direção invertida – tanto como pedestre quanto como motorista. Então, claro que tinha que acontecer alguma coisa pra me mostrar que confiança sempre é bom, mas excesso de confiança não é legal.
Hoje eu saí atrasada pra ir pra escola. Na real eu tenho saído meio atrasada todos os dias porque eu espero a Caroline chegar para levar o Leo na escola e com isso acordo ele no horário normal dele e vou arrumando ele. Quando ela chega, ele está quase pronto mas sempre falta alguma coisa. Daí vou falando com ela, arrumando ele e acabo saindo de casa uns 10 minutos mais tarde do que eu costumava sair ano passado.
Com o atraso de 10 minutos eu geralmente perco meu ônibus e tenho que ir de trem. Até aí sem problemas, agora aprendi que tenho que pegar a primeira classe e assim as pessoas não ficam me olhando como se eu estivesse louca. Bom, hoje foi a mesma história: 10 minutos atrasada, perdi o busão, comprei o ticket e fui pra plataforma do trem.
Aqui, como eu ando muito de transporte público, não abro mão de um bom livro pra me acompanhar. Aliás, já estou lendo meu terceiro livro em inglês e estou super orgulhosa de mim! E falando desse terceiro livro eu preciso abrir um parênteses: o título é Miriam’s Song – Canção da Miriam – e fala sobre a vida de uma menina negra que cresceu sob o regime do Apartheid. Algumas histórias que ela conta no livro são bem parecidas com as histórias que a Caroline me conta, mas no livro ainda é pior do que a Caroline conta. Às vezes eu acho que a Caroline ameniza um pouco as coisas quando me conta as histórias da vida dela.
Mas voltando ao meu dia. Fui pra estação de trem, peguei o trem e saquei meu livro. A viagem dura em torno de 20 minutos. Hoje eu decidi ir em um dos vagões da frente porque os que ficam próximos aos vagões da segunda classe geralmente são mais cheios. Por causa disso eu não estava conseguindo ver as placas com os nomes das estações, mesmo assim não me preocupei muito porque já conheço – ou pensei que conhecia – a estação de Claremont, onde eu tenho que descer.
Bom, uns minutinhos antes de completar 20 minutos da viagem o trem parou em mais uma estação, eu ergui a cabeça, dei uma espiada e até pensei que fosse Claremont, mas fiquei na dúvida e decidi continuar no trem. Quanto o trem começou a andar eu vi a placa: CLAREMONT. E pela primeira vez eu perdi a estação de trem que eu tenho que descer!
Não tive dúvidas: desci na estação seguinte, Nuweland. Uma estação bem diferente de Retreat e de Claremont com muitos seguranças, todos armados com cassetetes e só uma saída. Todos os seguranças indicando pro povo pegar essa saída e eu fiquei com um pouco de medo. Segui o fluxo até chegar em um guarda que me parecia mais bonzinho – ou de bom humor, pelo menos – e falei que perdi minha estação. Falei que queria ir pra Claremont e ele me falou que era a estação anterior – NOVIDADE! – e que dava pra ir a pé. Eu falei que não, que queria comprar outro ticket e ir de trem. Ele foi super simpático, me levou até uma moça vendendo os tickets e me orientou como chegar ao outro lado da linha do trem. Já era 9 horas da manhã e a minha aula estava começando.
Dei a volta na estação, saquei meu livro mais uma vez e fiquei esperando o próximo trem. Eu era a única alma viva esperando um trem ali, naquela hora. Depois de uns 20 minutos uma moça se aproximou de mim e me perguntou que horas era o próximo trem. Até aí tudo bem, mas o “estranho” é que ela falou africânder e eu entendi! Eu não sabia como responder e nem tinha certeza se tinha entendido certo, então pedi pra ela falar em inglês e devagar porque eu estava aprendendo inglês. Ela repetiu, em inglês, a mesma pergunta e me falou: mas você não é daqui? De onde você é? Eu falei que não sabia quando seria o próximo trem, mas que estava ali há 20 minutos e que achava que o próximo trem já estava vindo. Também falei que eu era do Brasil e ficamos conversando até o trem chegar. O nome dela é Sophia. Ela estava insegura porque estava indo pra uma estação que ela não conhecia muito bem. Eu tranquilizei ela e garanti que o trem passaria pela estação – eu passo por essa estação sempre entre Retreat e Claremont.
Pra mim o mais legal nessa história toda é que eu estou conseguindo me misturar à massa e meu passei por uma Sul Africana sem querer e segundo que eu entendi africânder. E essa segunda parte realmente me deixou mais orgulhosa assim. E isso deve-se ao fato das pequenas lições que eu tenho tido com a Caroline e à rádio que eu escuto que intercala notícias em inglês e em africânder.
E a escola? O trem passou as 9:35h, cheguei na escola 9:50h e entrei atrasada na aula. Os meninos de sempre ficaram em cima de mim e eu quietinha no meu quadrado...
Saí da escola no horário normal e, só pra garantir que eu não ia passar de Retreat, voltei de busão.
#VaiCarol
Hoje eu saí atrasada pra ir pra escola. Na real eu tenho saído meio atrasada todos os dias porque eu espero a Caroline chegar para levar o Leo na escola e com isso acordo ele no horário normal dele e vou arrumando ele. Quando ela chega, ele está quase pronto mas sempre falta alguma coisa. Daí vou falando com ela, arrumando ele e acabo saindo de casa uns 10 minutos mais tarde do que eu costumava sair ano passado.
Com o atraso de 10 minutos eu geralmente perco meu ônibus e tenho que ir de trem. Até aí sem problemas, agora aprendi que tenho que pegar a primeira classe e assim as pessoas não ficam me olhando como se eu estivesse louca. Bom, hoje foi a mesma história: 10 minutos atrasada, perdi o busão, comprei o ticket e fui pra plataforma do trem.
Aqui, como eu ando muito de transporte público, não abro mão de um bom livro pra me acompanhar. Aliás, já estou lendo meu terceiro livro em inglês e estou super orgulhosa de mim! E falando desse terceiro livro eu preciso abrir um parênteses: o título é Miriam’s Song – Canção da Miriam – e fala sobre a vida de uma menina negra que cresceu sob o regime do Apartheid. Algumas histórias que ela conta no livro são bem parecidas com as histórias que a Caroline me conta, mas no livro ainda é pior do que a Caroline conta. Às vezes eu acho que a Caroline ameniza um pouco as coisas quando me conta as histórias da vida dela.
Mas voltando ao meu dia. Fui pra estação de trem, peguei o trem e saquei meu livro. A viagem dura em torno de 20 minutos. Hoje eu decidi ir em um dos vagões da frente porque os que ficam próximos aos vagões da segunda classe geralmente são mais cheios. Por causa disso eu não estava conseguindo ver as placas com os nomes das estações, mesmo assim não me preocupei muito porque já conheço – ou pensei que conhecia – a estação de Claremont, onde eu tenho que descer.
Bom, uns minutinhos antes de completar 20 minutos da viagem o trem parou em mais uma estação, eu ergui a cabeça, dei uma espiada e até pensei que fosse Claremont, mas fiquei na dúvida e decidi continuar no trem. Quanto o trem começou a andar eu vi a placa: CLAREMONT. E pela primeira vez eu perdi a estação de trem que eu tenho que descer!
Não tive dúvidas: desci na estação seguinte, Nuweland. Uma estação bem diferente de Retreat e de Claremont com muitos seguranças, todos armados com cassetetes e só uma saída. Todos os seguranças indicando pro povo pegar essa saída e eu fiquei com um pouco de medo. Segui o fluxo até chegar em um guarda que me parecia mais bonzinho – ou de bom humor, pelo menos – e falei que perdi minha estação. Falei que queria ir pra Claremont e ele me falou que era a estação anterior – NOVIDADE! – e que dava pra ir a pé. Eu falei que não, que queria comprar outro ticket e ir de trem. Ele foi super simpático, me levou até uma moça vendendo os tickets e me orientou como chegar ao outro lado da linha do trem. Já era 9 horas da manhã e a minha aula estava começando.
Dei a volta na estação, saquei meu livro mais uma vez e fiquei esperando o próximo trem. Eu era a única alma viva esperando um trem ali, naquela hora. Depois de uns 20 minutos uma moça se aproximou de mim e me perguntou que horas era o próximo trem. Até aí tudo bem, mas o “estranho” é que ela falou africânder e eu entendi! Eu não sabia como responder e nem tinha certeza se tinha entendido certo, então pedi pra ela falar em inglês e devagar porque eu estava aprendendo inglês. Ela repetiu, em inglês, a mesma pergunta e me falou: mas você não é daqui? De onde você é? Eu falei que não sabia quando seria o próximo trem, mas que estava ali há 20 minutos e que achava que o próximo trem já estava vindo. Também falei que eu era do Brasil e ficamos conversando até o trem chegar. O nome dela é Sophia. Ela estava insegura porque estava indo pra uma estação que ela não conhecia muito bem. Eu tranquilizei ela e garanti que o trem passaria pela estação – eu passo por essa estação sempre entre Retreat e Claremont.
Pra mim o mais legal nessa história toda é que eu estou conseguindo me misturar à massa e meu passei por uma Sul Africana sem querer e segundo que eu entendi africânder. E essa segunda parte realmente me deixou mais orgulhosa assim. E isso deve-se ao fato das pequenas lições que eu tenho tido com a Caroline e à rádio que eu escuto que intercala notícias em inglês e em africânder.
E a escola? O trem passou as 9:35h, cheguei na escola 9:50h e entrei atrasada na aula. Os meninos de sempre ficaram em cima de mim e eu quietinha no meu quadrado...
Saí da escola no horário normal e, só pra garantir que eu não ia passar de Retreat, voltei de busão.
#VaiCarol
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